domingo, 30 de junho de 2013

Psicografia de um médico desencarnado

   Eu procurei a felicidade, mas demorei para encontrar!


Vivi na Terra exatamente 53 anos. Vivia deprimido e estressado. Adorava dirigir e tinha muitos carros; era colecionador de carros. Minha garagem luxuosa vivia cheia de carros antigos e novos. Quando eu adquiria um carro me sentia muito bem! Aquele aperto no peito passava um pouco. Tinha uma família maravilhosa, mas um filho especial. Hoje, posso afirmar que ele era especial. Quando na Terra parecia um empecilho à minha felicidade.

  Meu filho se envolveu com crack aos dezesseis anos. E o que pensei que era apenas um problema psicológico se transformou num grande pesadelo. Eu era médico, um médico cirurgião muito conhecido na região e no exterior.

  Adorava o reconhecimento pessoal. Cada cirurgia era uma vitória para mim! E, mergulhado somente na vaidade, me esqueci de outras coisas mais importantes.  Minha filhinha engravidou aos quinze anos também. Fiquei bravo com ela; não falei mais com a minha filhinha. Ela pegou as coisinhas dela e foi embora para a casa do namorado. Não conheci meu neto.

 Minha esposa ficou ao meu lado o tempo todo. Era boa e caridosa, mas o meu orgulho estava acima de tudo. Ter um filho dependente químico e uma filha sem juízo era uma vergonha para mim.

  Sim, eu era um bom médico, mas só para aqueles que tinham dinheiro para a consulta. Logo me firmei e fui fazer congressos  no exterior.

  Um dia, apareceu no meu consultório, uma senhora muito aflita. Implorou que fosse ver seu filho. Ela havia visto uma foto minha no jornal e me admirava muito. Seu filho já havia saído do hospital por causa de uma apendicite, mas estava mal novamente. Eu só fazia atendimentos residenciais com pagamento adiantado da consulta. O tempo era curto para atendimentos. Operava o dia todo. 

   A mulher era muito simples. A noite estava fria. Dei qualquer desculpa e pedi que ela o levasse num pronto-socorro. A mulher ficou olhando para mim com ar desolado. Não percebi raiva, mas uma profunda decepção.

  - Pedi para Bezerra de Menezes para que o senhor fosse vê-lo.Ele arde em febre! - fiquei muito nervoso. As ambulâncias serviam para isso; transportar doentes para o hospital. Por que essa mulher me procurou? 

 Fechei o consultório e fui para a casa. Não consegui dormir direito. Minha esposa contou que meu filho não havia passado a noite em casa. No dia seguinte, fiquei sabendo que fora assassinado por traficantes. Fiquei arrasado! Jamais pensei que a dor da perda de um filho fosse tão ruim. E, mais o remorso! Eu era um médico inteligente, mas totalmente ignorante das verdades espirituais. Meu filho era apenas um problema e nada mais! Queria um filho que fosse doutor como eu e me enchesse de orgulho! Não acreditava na espiritualidade e, muito menos, na vida eterna.
 
  E, no velório, vi minha filhinha, mas ela não olhou para mim. Fui abraçado por vários colegas de profissão. Eu estava desnorteado. Saí um pouco do salão. Fiquei andando pelo cemitério quando vi uma senhora chorando muito. Era aquela velhinha que havia me procurado no consultório. Chorava diante de um túmulo. Havia flores frescas. Ela me viu e disse:

   - O que o senhor está fazendo aqui, doutor? Meu filho faleceu naquele mesmo dia. A ambulância demorou pra vir. Ele estava com infecção generalizada. O médico de plantão demorou a ver uma vaga pra ele. Se ele fosse logo para a U.T. I talvez tido sido salvo. Sou espírita e confio em Deus! Ele está bem e logo vou revê-lo.- estranhei a linguagem daquela senhora. Vestia-se muito bem e não estava com roupas simples. Parecia outra pessoa!

   - Minha senhora me desculpe.- disse, transtornado. Agora, sei a dor de perder um filho.

  A mulher olhou para mim e sorriu. Colocou a mão sobre a minha cabeça e fez uma prece. Senti um intenso calor no meu corpo e um grande alívio. De repente, a mulher sumiu.

  Olhei em volta e não a vi mais. Aproximei-me para ler a plaqueta do túmulo e havia uma foto daquela senhora. Ela havia morrido há exatamente dez anos. Meu coração começou a pular dentro do peito. Eu havia sido procurado por uma mãe desesperada que já havia desencarnado. Fiquei desnorteado e desde aquele dia não fui mais o mesmo. Entrei em profunda depressão. Um grande amigo médico que era espírita me ajudou demais. Comecei a me interessar pelo Espiritismo; que foi um grande alento para mim.

   Aquelas lições me transformaram! Fiz as pazes com minha filhinha e vendi alguns carros. Dediquei mais tempo à minha esposa e ao consultório. Atendia muitos pobres, porque me dava prazer fazer o Bem. Eu não tinha vergonha de ser rico, tinha vergonha de ser egoísta. Nada há de errado com o dinheiro. É saudável viver bem e ser feliz! No entanto, uma felicidade egoísta não leva a nada. Só o Bem cura nossa alma!

  A angústia sumiu e me perdoei por não ter dado a devida atenção ao meu filho dependente químico. Depois de seis meses, desencarnei depois de um mal súbito.

 Meu filho e eu estamos juntos, mas sofri muito tempo na Espiritualidade antes de reve-lo. 

 A felicidade é o Bem que fazemos. Os amigos. A família. A felicidade de estar vivo!

Viva enquanto é Tempo, porque o Tempo corre velozmente!


Não vou deixar meu nome verdadeiro por motivos pessoais.

H.T


Um irmão ao seu dispor.

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