sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Relato de um pescador




                                             O pescador  André


            Gostaria de contar como foi que eu morri. Morrer não dói! Não é uma experiência espetacular ou especial. Morrer é uma experiência natural! Natural como comer, beber, sorrir e viver! Se você tem medo da morte; esse medo é infundado. Ele não tem base real. Talvez você tenha medo da vida ou do sofrimento. Morrer é se libertar! Se a  sua consciência está muito pesada o medo da morte tem até seu fundamento. Peça perdão a Deus e se corrija enquanto é tempo! Deus não é Juiz; você mesmo se condenará!

           Sempre vivi com liberdade! Era pescador na Bahia de todos o Santos. Adorava o mar, a liberdade e o amor! Exímio conhecedor das marés, dos peixes e dos camarões. Amava pegar os camarões com a rede, mas eles começaram a ficar escassos. Morava com a minha linda Maria numa casa muito simples. Ela me ajudava a tecer as redes. Nossa pele era curtida pelo sol e pela lida. Eu era bem moreno e bronzeado. 

   Conquistei a linda Maria por conta dos meus belos olhos verdes. Olhos da cor do mar! Meus olhos mudavam de cor de acordo com as marés. Não estudei, apenas era alfabetizado, mas essa foi uma das minhas encarnações mais simples e breves. Vivi apenas trinta e seis anos! Maria ficou na terra e esperava o Júnior. Queria muito ter um menino e ensiná-lo a pescar. Era meu sonho! Levá-lo pra pescar no meu barco que comprei com muito sacrifício. Era meu barco e, com ele, o sustento da minha pequena família. 

  Minha mãe morava com a gente e mal ouvia, mas ela me adorava. Morreu meses antes de mim. Saiu de casa para dar uma caminhada. Viveu 80 lindas primaveras. Não voltou mais. Nós a achamos na areia da praia. Morta. Nunca havia adoecido. Eu chorei muito. Acreditava em Deus, mas com certo temor. Procurava ser um bom homem. Não sei se fiz as coisas certas, mas tentei não fazer o mal. Vivia para a Maria; ela vivia para mim. Eu me preocupava com ela quando saía para pescar com o Antonio, meu grande amigo. Ela ficava na beira d água acenando. E a barriga crescendo forte...

     Eu sempre voltava para casa mesmo depois de fortes tempestades. O oceano era meu grande amigo! Tinha o maior respeito pelos peixes e, principalmente, pelos tubarões! Uma vez, um grande tubarão fez um estrago no meu barco. Antonio ficou com raiva e sugeriu que eu pegasse o tubarão de qualquer maneira! Voltamos para casa depois de uma madrugada cheia de tempestade e ondas fortes. Consertei o barco e voltei para o mar!
   Maria sempre me esperava com pirão e peixada. Chegava faminto e feliz quando a pescaria tinha sido farta! Sempre rezava para que nada faltasse a Maria!Tantas encarnações de poder e estudo, mas essa foi marcante. Aprendi a ser feliz na simplicidade!

   Uma noite, eu quase não consegui dormi. Suei frio e vi minha mãe em pé ao lado do meu catre. Maria ressonava tranqüilamente. Minha mãe estava mais jovem e sorridente. Ela me deu a mão e eu quis segui-la, mas não pude. Ela me disse:

   - Sua hora está chegando, meu filho!- acordei febril e assustado. Beijei e abracei Maria. No dia seguinte, saí para pescar com o Antonio. O mar estava diferente; um azul mais forte e me deu arrepios. Ventava muito. Morávamos praticamente na beira da praia num casebre muito simples, mas eu não deixava faltar nada pra Maria. Ela estava inquieta e com dores:
  - Marido, (ela me chamava assim).-ou então me chamava de painho. Painho, não vai! Hoje, não estou bem!- ela se queixou. Perguntei se queria que eu a levasse ao pronto-socorro local. Faltavam dois meses para o Júnior nascer. Ela meneou a cabeça e foi comigo até o barco. Ficou olhando para o mar e se queixou um pouco chorosa:

  - O mar é meu rival, painho. –  sorri e a abracei. O vento balançou seus cabelos negros como o ébano. Brincou com seus cabelos.  Namoramos um pouco antes de partir para o oceano. Antonio chegou atrasado e vaticinou:

   - André, venta muito! Sinal de tempestade!- ele me disse receoso. Uma força me empurrava para o mar. E outra força para os braços de Maria. Acariciei sua barriga e pedi:
   - Cuida do Júnior, porque eu voltarei logo!-afirmei. Senti um leve tremor, mas mesmo assim, caminhei até o barco. Maria ficou quieta. Não esboçou nenhum sorriso. Queria me ver sumir no horizonte. Ou talvez me demover da ideia de pescar naquela manhã cinzenta. A Lua estava boa para peixes-eu pensei. Ela se aproximou novamente e a abracei bem forte. Maria  se sentiu segura. Antonio gritou:

  - André, vamos logo!

  Eu fui para não voltar mais...Adentramos o mar enquanto, Maria ficava cada vez menor... Olhei para ela com muito amor, mas eu precisava cumprir meu destino.
  Os ventos pareciam controlados e jogamos a rede. De repente, ouvi um barulho embaixo do barco. E esse som estranho me deu arrepios. Antonio gritou:

   - Aquele tubarão voltou! Eu lhe pedi para matar esse tubarão.- afirmou Antonio com ar de preocupado. Só que vi uma grande onda! Foi tudo muito confuso e rápido! O barco virou, Antonio caiu no mar e eu também. Senti algo mordendo minha perna e perdi os sentidos. Quando dei por mim nadava como um peixe e vi o grande tubarão devorando minhas carnes. Antonio ainda estava vivo e se debatia nas águas. Eu me sentia vivo e ágil! Nadei até chegar à superfície da água e vi um barco muito grande. Antonio se agarrava no que restou do nosso barco. Ele conseguiu se salvar, porque foi socorrido por outro barco. Um corpo igual a mim era devorado pelos tubarões. Assisti um pouco, mas sem qualquer reação.Senti que uma força espiritual me afastou dali; do meu corpo material.

    Eu me vi fora dágua; me sentia livre e quase feliz! Parecia que eu era o Rei do Mar e das águas. Meu pensamento foi para Maria. Em poucos instantes, estava em nossa casa. Ela andava de um lado para o outro. Chorava muito. A noite caiu e ela adormeceu chorando.De repente, eu vi minha mãe. Ela me disse:

  - Você não faz mais parte desse mundo, filho. – Maria saiu do corpo e, quando me viu deu um grito. Estava confusa e atordoada. Via seu corpo na cama e outra Maria dormindo no catre.  Maria me deu a mão e disse com a voz do pensamento:

  - Eu sabia que você não iria mais voltar.- choramos juntos abraçados. De repente, tudo sumiu e me vi de novo no mar. O mar era meu lar e minha vida! Eu era o Mar! Ele era EU! Minha missão era a Natureza e os oceanos! Cumpri minha missão terrena e a vida eterna me espera para outros desafios! A vida é muito mais do que você pensa! O Universo é infinito e sua vida também! 

    Tudo faz parte de uma Força Criadora que ainda não conseguimos  compreender. Faz parte de uma Consciência Eterna e Misericordios; uma grande Fonte Inesgotável de vida e abundância!

  Antonio foi capturado ainda com vida. Meu filho Júnior nasceu muito saudável. Maria saiu da casa e se mudou pra cidade. Às vezes, nos encontramos. Ela pensa que é sonho, mas não é! Somos almas gêmeas e jamais nos separaremos. E ela não pode seguir sozinha. Antonio agora está ao seu lado. 

  Morrer não dói! Morrer faz parte da vida! A matéria é apenas uma casca! Não tenha medo de nada! Seja bom, solidário; seja você mesmo! Entregue sua vida nas mãos de Jesus e deixe que ele faça a Obra!

  Minha vida é o Mar! Oriento espiritualmente as pessoas para que cuidem do oceano! Sou feliz e liberto! Acredite na força da vida espiritual...A vida é eterna!Você nasceu para viver eternamente  e vencer! "

  André Pescador das Almas

Dedico essa psicografia à Ignez Faria.

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